segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CARTA DE DESPEDIDA
Por: Isabela Freitas

Ei, sem raiva tá? Leva um pedaço do meu coração e me dá em troca um pedaço do teu. Leva também um sorriso pra viagem e não se esqueça das vezes em que eu te disse o quanto você era incrível. Quero que você nunca duvide do seu potencial e que não desista da faculdade de Medicina, eu sei que você vai conseguir. Aquela viagem pra Europa pode esperar uns anos, e quem sabe não nos reencontramos por lá? Lembre-se dos momentos bons e das conversas até tarde das madrugadas frias. Diga a seus pais que vou sentir falta. Cuide bem do Dolph, nosso golfinho de pelúcia. Engraçado, ainda me lembro do dia em que você me deu ele. Estávamos na feira da cidade e eu disse que odiava bichos de pelúcia, bem, é claro que você fez questão de comprar um só pra me irritar. Ninguém sabe o quanto tive vergonha de andar com aquele bicho pra lá e pra cá. Só você. Só você sabia colocar borboletas no meu estômago. Só você tinha capacidade de amolecer meu coração de pedra com um sorriso. Ah, o seu sorriso. Posso levar ele comigo? Posso abraçar suas roupas que ficaram aqui em casa só para sentir seu cheiro? Acho que posso. Você virou meu mundo de cabeça pra baixo e agora eu preciso colocá-lo nos eixos. Só te peço para que por favor, não se torne o tipo de cara que leva consigo só os problemas e as más recordações. Lembre-se dos abraços, dos beijos de reconciliação, das músicas que cantamos juntos escutando o rádio, dos momentos em que nossos olhos se encontravam, do toque da minha mão, do perfume que eu passava só porque você pedia, das flores que você roubou, dos filmes que assistimos, das gargalhadas que eu te proporcionei com meu jeito destrambelhado, das vezes em que eu fazia algo de errado e aparecia com cara de criança sapeca. Lembre-se do meu jeito implicante que tanto te irritava, da minha mania de deixar as roupas jogadas no chão e principalmente, do quanto eu te amei. Não se esqueça do dia em que nos conhecemos e do dia em que nos despedimos.
Para cada despedida há a esperança de um reencontro. Não deixe de acreditar, não me deixe afastar demais. Tá tudo errado. Não devemos esquecer nunca como uma pessoa nos fez sentir só porque ela se foi. Então não esquece, tá? Me dê um último abraço e vamos em direção ao futuro.

domingo, 29 de setembro de 2013

Um simples gostar

Hoje eu quero paz de espirito e um gostar simples. Daqueles rotineiros e apaziguadores, que a gente possa se pacificar juntos, assim, bem cadente de nós, bem gostoso, bem simples…
Não quero mais consternações, teorias ou joguinhos premeditados, só quero sentar, olhar a paisagem e vagar entre os sorrisos tranquilos e certos, de que ali, existe alguém que talvez não seja a paixão mais louca do mundo, mas que entende a valia da palavra sinceridade e sua influência na felicidade alheia.
Eu não falo de amores modernos e de sentimentos quase que, imensuráveis, mas de um gostar simples, sereno, confiante, leve, brando… Daqueles que se gosta pelo que se é, não pelo o que se tem ou o que se faz. Daqueles erguidos e mantidos pela sinceridade. Daqueles que seguram-se as pontas quando necessário e transformam nós em laços.
Emoções são boas, loucuras também, mas hoje estendo meu direito de querer ser simples. Eu e você, quer mais simples que isso? Não quero muita coisa não, conforto no olhar e compreensão no sorriso já basta. Só quero calmaria, trilhar um caminho fresco e sonhar enquanto passeamos nas veredas da vida.
Então talvez eu tenha cansado de conhecer e desconhecer pessoas. Talvez eu tenha cansado de ter que ficar redescobrindo a confiança nas pessoas que me circulam. Hoje só quero paz, tranquilidade e sorrisos sinceros. Na verdade, quero tudo sincero, é só isso que eu preciso. Você e sua sinceridade, o resto a gente decide amanhã no café da manhã…

sábado, 21 de setembro de 2013

Acredite



Porque nunca consigo me livrar de você? Porque você insiste em não sair dos meus pensamentos de uma vez por todas? Acredito que uma semana foi o tempo máximo que passei sem pensar em você, e isso é uma droga. Como alguém pode pensar tanto assim em uma pessoa que "não está nem aí"?
A um certo tempo atrás vivi meses sem nem lembrar que você existia, já tínhamos amizade, já tínhamos histórias e principalmente já tínhamos experiências. Mas mesmo assim quando eu me afastei foi como se você nunca tivesse existido. Porque dessa vez não é assim? O que mudou? O que aconteceu? Acredito que eu mudei. Acredito que agora eu me importo, comigo, com você, com os outros. Acredito que agora eu me importo com o que eu possa sentir. Com o que eu não quero sentir.

Acredite, eu não quero sentir nada por você! Nunca quis e não é agora que vou começar a querer, mas já era certo quando diziam que “querer não é poder”. Não sinto nada demais por você, não morro de amores, mas sinto alguma coisa, alguma coisa que é de menos. Só que um de menos que incomoda.
Acredito que incomoda porque é vazio, porque é solitário, porque é triste. Acredito que isso me dilacera por dentro, já que é sofrer em demasia gostar de quem não gosta de ti. Acredito que eu deva pra lutar pra que essa “coisa de menos” não cresça dentro de mim. E luto. Mas ainda assim acredito, principalmente, que um dia você vai acreditar que me amar será a melhor saída. 

(Lorena Brito)

domingo, 15 de setembro de 2013


Gostaria de usar toda a beleza das palavras para lhe escrever um texto simples, onde eu te falaria o quanto é bom pensar em você e o quanto isso me faz bem. Mas não posso, não me faz bem pensar em você, não é bom. Percebi, depois de muito apanhar da vida, que pensar em você dói, que me imaginar com você faz mal. Que você me faz mal. Não queria que fizesse. Gosto de você e uma parte de mim acredita que você sente o mesmo, mas até a crença dessa parte esta morrendo. Você desaparece do mapa e só me procura quando é conveniente, que amor é esse que só acende nas horas vagas? Que amor é esse que só aparece no momento bom da vida? Isso não é amor, é solidão. Solidão sua que faz você me procurar quando quer mata-la. Solidão sua que se torna minha logo depois que você se vai.

(Lorena Brito) 

terça-feira, 10 de setembro de 2013


Daí a gente dorme. Dorme porque isso ainda se pode. Não de conchinha, mas dorme. Daí a gente sonha. Não com alguém, mas com o desejo de ir além. Daí a gente acorda. Não ouvindo um “bom dia”, mas torcendo pra ser. Daí a gente vive. Não só por viver, mas pra tirar do singular, tudo que a gente sonhou plural.

(Matheus Rocha)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que você fez comigo? (Isabela Freitas)


- Desculpe-me por ser tão exagerada.

Disse, após dar uma gargalhada tão alta que chamou atenção de todo o restaurante. Eu queria mesmo não ser tão exagerada, quero dizer, eu precisava mesmo achar a história que ele me contou tão engraçada assim? Olha, precisava. A avó dele perdeu a dentadura no meio de um jantar de família, isso era mesmo muito engraçado. Eu só poderia ter me contido, né? Ter dado aquele sorrisinho meigo que as garotas de filmes fazem, com as mãos na boca, enquanto lançava um olhar sexy que insinuaria que era o timing perfeito para ele me dar um beijo. Mas não, é claro que não, a Senhorita Exagero teve que gargalhar alto, e não satisfeita, derrubar o garfo no chão logo em seguida. Porque é claro, a Senhorita Exagero era também Estabanada. Perfeito. Nada de beijo, nem timing perfeito.

Toda vez em que exagero nas reações lembro-me da minha avó dizendo "Essa menina não consegue ser pouco, né?''. É, querida vovó, eu ainda não consigo ser pouco. E aproveitando o parênteses, desculpe-me por te envergonhar todas às vezes em que você me levava na Igreja e eu perguntava em voz alta:

- Ô vó, por que sempre que eu venho aqui é a mesma coisa?
- Shiu menina, não fala isso. - ela me respondia, entre dentes. E eu continuava, sem entender muito bem.
- Mas vó, É A MESMA COISA TODA VEZ, AS MESMAS MÚSICAS. Pede pro padre cantar aquela da Xuxa, pede vó! - e fazia beicinho.

E isso aí não foi nada perto do dia em que puxei a barra da vestimenta do Padre e perguntei se ele conhecia a música "Dança do Coco'', que claro, a Xuxa cantava. Ele me respondeu com um sorrisinho, seguido de uma advertência para minha avó "Essa aí é uma figura, hein?'' Vergonha, vergonha. Por que eu era assim? Deveria ser mais fácil segurar os pensamentos na boca. Que os pensamentos ficassem só em pensamentos, e que eles não fossem tão exagerados. Ou sonhadores.

Eu era a melhor quando se tratava de relacionamentos, diziam minhas amigas. Fria, calculista, não demonstrava muito, tampouco escondia tanto. Era ''na medida''. Todos meus relacionamentos duravam um tempo aceitável, o suficiente para que eu enjoasse de toda aquela sutileza e sensatez. Sensatez. Por que meus relacionamentos eram tão sensatos? Calmos? Não aceleravam o coração? Talvez eu fosse mesmo a melhor, conseguia até controlar os batimentos do coração, as borboletas no estômago. Devia ser isso, é claro que era isso. Obrigada vida, eu era uma sabe tudo dos relacionamentos.

Até você aparecer.

No dia que te vi pela primeira vez conversando com meu melhor amigo, tive ânsia de vômito. Não sabia se a sua presença provocava isso em mim, ou se a culpada era a bebida em que segurava nas mãos. Por via das dúvidas, joguei a bebida fora. Você sorriu, eu tropecei. Sorri de volta. Estava escuro, talvez você nem tenha notado que eu perdi o equilíbrio. Perguntou meu nome, não entendi. Fiz sinal de que não estava escutando. Você perguntou de novo, e eu não entendi de novo. Sorri. Só conseguia prestar atenção nas suas mãos nas minhas costas, e no seu perfume que tinha o cheiro de céu. Céu.

- Seu nome é Céu?

Meu Deus. Eu disse isso em voz alta, é isso mesmo? O que estava acontecendo comigo? Você  não sabe tudo sobre relacionamentos? Vamos lá garota, aja como se fosse normal.

- Céu? Não, você entendeu errado. Eu estava perguntando qual o seu cel. Celular.

E foi assim que eu pedi o telefone de um completo desconhecido que mexia com os meus hormônios, e me fazia falar coisas sem pensar. Assim como o Padre da Igreja da minha vó. Tirando a parte dos hormônios. Desconhecido esse que agora era o meu namorado, estava sentado de frente para mim em um restaurante, e me olhava com cara de quem não entende o que se passa.

- Linda, tá me ouvindo?

É claro que eu não estava te ouvindo. Eu nunca te ouvi, nunquinha. Toda vez que você abre a boca eu me perco. Me perco nos seus lábios, no seu sorriso, e no som que a sua voz faz quando me conta algo empolgado. Me perco nos seus olhares apreensivos, e no modo que suas mãos se mexem tentando exemplificar o que está dizendo. Eu me perco todinha. Não sei se você nota, deve notar, porque depois que conta algo nem se dá o trabalho de perguntar se eu entendi. Eu nem ouvi. Você me distrai demais, essa é a verdade. Então perdoe-me por ser tão exagerada às vezes, é que toda vez que você me faz sorrir, tenho vontade de te abraçar forte e dizer que você é o máximo. Mas isso soaria estranho, não é? Então eu apenas dou uma gargalhada. Às vezes alta demais.

Cadê aquela garota que sabia tudo sobre relacionamentos? Procura-se. Eu odeio o fato de não saber como agir quando estou ao seu lado. Devo colocar minha cabeça no se ombro enquanto assistimos um filme? Puxar sua mão quando atravessamos a rua? Cantar nossa música em voz alta quando ela toca na rádio? Eu odeio não saber a hora certa de dizer as coisas. Quero dizer, eu sou intensa demais. E se isso te assustar? Você se assustaria se eu confessasse que espero você dormir, só para poder te observar enquanto dorme?Provavelmente sim, eu me assustaria. Também odeio sentir meu rosto queimando toda vez que você me elogia. Aliás, dá pra parar de me elogiar? Eu sinto meu estômago queimar como se um enorme balão estivesse pronto para decolar. Pegando fogo. Assim como meu rosto. E eu não gosto disso. Na verdade, eu gosto muito. E é por isso que é um problema.

Nós somos um problema, não vê? Você me faz suar frio, derrubar objetos, e gaguejar enquanto falo. Isso não pode ser normal, nós não somos normais. A sua presença me deixa nervosa, e o meu estômago se tornou o lar das borboletas de todo o país. Talvez de todo o mundo. Por Deus! Só de escutar o seu nome já me arrepio toda. Qual era o meu problema? Será que preciso de um psicólogo? Não, não, PSIQUIATRA? Deve ser. Começo o meu tratamento na segunda-feira, sem furos.

E enquanto eu pensava todas essas coisas, você me interrompe com um:

- Ei, eu adoro quando você fica pensativa assim.

E eu tenho vontade de responder com "E eu adoro quando você diz que me adora quando fico pensativa."

Mas não, ia parecer clichê e bobona demais. Então eu sorrio e digo:

- Você é um bobo mesmo.

E é aí que você me puxa e dá mais um daqueles beijos que tem gosto de intensidade. Intensidade. É tudo que eu consigo pensar quando estou ao seu lado. E pela primeira vez na vida, deixo de me culpar por ser assim tão exagerada e aperto forte sua mão, querendo dizer tudo aquilo que não disse em voz alta.

(Isabela Freitas)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Você é mais bonita do que todas as coisas bonitas. É mais bonita que o mar quando ancora no cais do seu coração que, no peito, leva e traz amores distantes, e saudades eternas dos nossos próximos instantes. E, quando a vejo na beira do caos, você se aproxima e, meio sem jeito, me pede um cigarro, um isqueiro, um lenço, um beijo e um imenso abraço. Depois, me deixa a ver vazios. Eu embarco no último navio e atraco na grandeza do mundo que nos separa.

Adeus!

Seus abraços não me tocam mais. Nossas bocas não se trocam mais. Suas palavras não me emocionam mais. O que você endeusava, se humanizou. O que você sangrava, se estancou. O que você feria, cicatrizou: é o que você queria, é o que você queria… E o que você tanto amava se evaporou aos prantos entretanto o que você procurava ainda não a achou. Sequer ouço seus ossos quebrando de saudade. Amar você agora é o de menos. Parece que a esqueci.

Mentira!

Ainda sinto a sua falta. Ainda tateio o seu seio invisível no vazio deste quarto. Ainda trepo com o seu fantasma. Não porque você é mais bonita do que todas as coisas bonitas, mas porque você cabe tão bem no que eu sinto, cabe também no que eu minto. A grande verdade, pequena, é que você é mais bonita do que a verdade.

[você é mais bonita do que todas as coisas bonitas/parte I; antônio]

(Via: eu me chamo Antônio)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013




Escrevi pra você, queria que você lesse, queria mesmo, mas não posso. Talvez você descubra tudo que está nas entrelinhas, talvez você descubra o quanto, algumas muitas vezes, eu quero você aqui, comigo e o quanto, outras vezes, eu quero você o mais longe possível. Não sei qual foi o feitiço, mas você me tem, é incrivelmente ridículo pertencer assim a outra pessoa, é sujo e cruel, não deveria ser permitido; você me tem e talvez saiba disso, talvez saiba que pode sumir por um tempo e quando voltar ainda vou estar aqui, talvez mais madura, talvez mais mulher, mas ainda aqui. Cuidado, querido, você me tem sim, como nenhum outro me teve, mas não me machuque, não quero ter de tira-lo de minha vida, o que sinto por você é tão puro e traz tanta paz, não quero ter de matar isso, mas se tiver, farei com coragem. Você me tem, é, você me tem, é difícil aceitar isso, é difícil mesmo, já que nunca pertenci assim a outro alguém, isso é errado, sei que é. Queria saber se eu te tenho também, nem que seja um pouquinho, talvez não, mas talvez sim e é essa duvida que mata, essa duvida que corrói e me faz tão boba. É claro que você não vai saber que me tem, eu não vou falar, quem sabe você perceba. E, se for perceber, perceba logo, por que se você demorar muito, talvez eu possa ter outro alguém ou talvez eu só não queira mais ter você.


(Lorena Brito, em janeiro de 2013)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Cartas para não sei quem"

Eu não preciso chorar para mostrar que estou triste. Nem gritar para dizer que sinto dor. Muito menos sorrir para deus e o mundo para provar que sou feliz. Não preciso aparentar para ser, demonstrar para estar. Meu mundo acontece aqui dentro. E ele não é menor ou maior que o seu: é simplesmente o meu. Ele é meu com todas as letras, ele é meu em cada palavra, com todos os silêncios, com todos os incêndios. Eu ouvi meu choro, eu escutei meu grito, eu senti minha dor e eu gargalhei em paz sem precisar invadir o seu mundo com coisas tão minhas, com coisas tão lindas, com coisas tão findas que se repetem infinitamente: aqui dentro. 
(Eu me chamo Antônio) 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nunca vou entender.


Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente pensa sem culpa na sua ex, cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode ter uma mulher mais gostosa do que eu, mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.
Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer ir no cinema com uma velha amiga. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais gostoso, como de fato já tive milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.
Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o cinema que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.
E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu (...). Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.
Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo pegar aquele cineminha, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
(Tati Bernardi)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

-

“O que passo para as pessoas é muito mais do meu trabalho do que das coisas que faço fora dele. É claro que existe todo um folclore em torno do meu nome. Tudo quanto é matéria relacionada a bar, por exemplo, tem que ter o meu nome, por que sou realmente um frequentador da noite. Mas o que fica mesmo pras pessoas que consomem meu trabalho é a mensagem romântica que está no que escrevo. O meu trabalho tem muito essa coisa de cutucar a dor de amor. É o lado meio dark do amor que as pessoas curtem em mim. ” — Cazuza

terça-feira, 2 de julho de 2013

Se



Somos estações.

Somos estações! É isso, definitivamente somos estações. Já disseram que “algumas pessoas são feitas para se apaixonarem, mas não para ficarem juntas” e somos assim, completa e totalmente assim;  por isso somos estações, estamos –sempre- apenas de passagem pela vida um do outro. Eu não saberia ficar pra sempre com você e você não saberia lidar com as minhas loucuras matinais, eu não aguentaria suas ex-ainda-apaixonadas e você não gostaria dos meus ex-ainda-melhores-amigos, eu não saberia ver as milhares de meninas dando em cima de ti e você não saberia como falar ‘’não gosto de teres tantos amigos homens”; não saberíamos conviver assim. Ou melhor, poderíamos aprender um com o outro, eu te ensinaria a ver que meus amigos são apenas amigos e você me mostraria que eu não preciso me preocupar, que se você estivesse comigo era comigo que queria estar. Poderíamos.

Eu não digo que somos apaixonados um pelo outro,  mas sei que gostamos da presença e sentimos a ausência, sempre sentimos a ausência (mesmo não percebendo) e sei que gostamos um do outro (não digo um gostar completamente romântico, mas um gostar meio louco e sem explicações). Passamos vários tempos afastados e só quando você reapareceu que eu pude notar o quanto me fez falta, o quanto é bacana ter alguém com quem se sentir a vontade pra agir e falar o que vier em mente é permitido, o quanto é legal ter um amigo que pode ser bem mais que isso. Mas não somos apaixonados um pelo outro, gostamos da amizade e da liberdade entre nós, gostamos da convivência tão sem neuras que temos juntos, somos loucos pela falta da necessidade de explicar cada atitude tomada ou o porque de ter feito (ou não feito) tal coisa; gostamos da simplicidade do estar juntos apenas por ser bom estarmos juntos.

Gostaria de saber o seu lado de tudo isso, se você concorda comigo ou se tem algo mais ou algo menos, mas por enquanto, enquanto não sei, somos e continuamos estações. Então, somos assim, somos passagem! É ótimo enquanto está acontecendo, mas ainda não é pra sempre. Talvez, em algum dia, sejamos pra sempre, aí deixaremos de ser estação para sermos estadia, para sermos morada um do outro; mas isso é pra um dia e não pra agora, por enquanto ainda somos estações. Quem sabe as coisas mudem antes que aconteça, mas, como normalmente acontece, estações vem e vão. E se dessa vez nós "formos" de novo, eu te digo: nos vemos em breve, até a próxima estação, meu bem! 
Lorena Brito

segunda-feira, 10 de junho de 2013

No dia em que te conheci você me disse que nunca se apaixonaria, agora que entendo você. Sei que era medo, na verdade; agora estamos aqui, tão perto e ainda tão longe, não fui aprovada no teste? Quando você perceberá, querido, que eu não sou como o resto?

Não quero partir seu coração, só quero dar um tempo a ele. Eu sei que você está assustado, é errado, como se você fosse cometer um erro. Só temos uma vida para viver e não temos tempo para desperdiçar. Então, deixe-me dar um tempo ao seu coração. O mundo pode ser nosso se quisermos, podemos dominá-lo se você segurar a minha mão; agora, não há volta!

Querido, tente entender: não quero partir seu coração

(Give your heart a break- Demi Lovato, adaptada)

Às vezes penso em quando estávamos juntos, como quando você disse que se sentia tão feliz que podia morrer. Disse a mim mesmo que você era o certo para mim, mas me sentia tão solitária na sua companhia, mas era amor e é uma dor de que eu ainda me lembro. Você pode ficar viciado em um certo tipo de tristeza, como renúncia ao fim; então, quando descobrimos que não podíamos fazer sentido... Bem, você disse que ainda seríamos amigos, mas vou admitir que fiquei feliz que tudo acabou.

Porém você não precisava me cortar, fingir como se nunca tivesse acontecido e que não éramos nada. E eu nem preciso do seu amor, mas você me trata como a uma estranha e isso é tão duro! Não, você não precisava descer tão baixo, fazer seus amigos recolher os seus discos e depois mudar o seu número;embora eu ache que eu não preciso disso... Agora você é apenas alguém que eu conhecia.


Às vezes penso em todas as vezes em que você me ferrou, mas me fazia acreditar que era sempre algo que eu tinha feito e eu não quero viver assim, interpretando cada palavra que você diz. 

(Tradução: Somebody that i used to know- Gotye)


"Na tua."

"Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer. Assim. Aquele domingo, lembra? Fui buscar pão e geleia de morango, e pedi emprestado seu MP3 player para distrair meu caminho. Talvez através da sua seleção eu soubesse melhor quem você é. Sei que eu comentei algo idiota sobre uma suposta vontade de me enforcar após ouvir sua listagem e você, meio brabo, grosso e arredio, disse “se você está com vontade de comer uma torta de morangos deve procurar uma confeitaria, e não um açougue” e blá-blá-blá. Tudo bem, não está mais lá quem falou.

Só que eu estou aqui. Querendo saber mais coisas remotamente pessoais sobre você sem que uma expressão de pavor cruze seu rosto. Então, com quantos anos você perdeu a virgindade? Já foi a algum show do Whitesnake? Você teve sarampo quando criança? Você foi criança um dia, não foi? Como vai sua mãe? Você me quer apenas como sua garota de final de semana? Eu quero mais.

Eu sei o que você vai dizer. Mentira. Não sei. Mas gosto de fantasiar alguma coisa mais ou menos parecida com “Já estamos juntos desde sexta-feira, não estamos? Você ainda quer que eu fale? Desculpe, baby, isso já é pedir demais. Pensei que minhas intenções estivessem implícitas”. Aquele seu jeito seco e ao mesmo tempo delicado de esfregar a suas razões na minha cara. Odeio quando você está certo, coisa que acontece quase o tempo todo. Além do mais, não é justo. Você já me viu meio embriagada, sentada no meio-fio, chorando de saudades da minha mãe.

Enfim, em três meses você me viu chorando 43% do volume esperado para o ano inteiro. Mas é que, sei lá. Isso tudo, todo esse medo do nada-acontecer ou do tudo-acontecer-rápido-demais tem me deixado cansada. Nada de mais. Você sabe montes de coisas sobre mim, muito porque sou tagarela, coleciono tiques nervosos e acho que está sempre faltando um algo mais – por que se contentar com o ótimo, se pode ficar perfeito? Vocês meninos têm disso? Tipo, quando jogam videogame, desmontam motores ou fazem fogo, vocês trocam ideias, buscam saber o que o amiguinho acha a respeito disso e daquilo? Tudo bem, eu sei que não. Pode ficar aí, na tua, quieto, não se faz necessário reunir forças para mover lábios e cordas vocais para responder qualquer coisa que seja. Não quero incomodar, mas, vai, solta pelo menos um muxoxo ou me manda calar essa maldita boca.

Passear pela calçada contigo tem a mesma sensação de ir a um bom restaurante concorrido. Na sua testa está escrito RESERVADO, e eu espero de verdade que o lugar seja meu. Sabe, eu tenho adorado sentar à sua mesa e experimentar sua comida bonita, colorida, aromática, sedutora e cheia de sabor. Nunca me importei muito com a receita, os ingredientes e a forma de preparo. De todos os locais onde jantei, todas as vezes evitei descobrir ratos e baratas e outras guarnições escrotas nos bastidores daqueles idiotas. Eu não queria me decepcionar. Mas contigo é diferente. Eu preciso saber. Como vou saber se estou pisando em ovos se você não me convida para conhecer sua cozinha?

Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser?

Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na tua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado.

Gabito Nunes

domingo, 9 de junho de 2013


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol ou para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'. 
- Caio Fernando Abreu.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater do coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo.
— Bento, Dom Casmurro

quarta-feira, 5 de junho de 2013




“Eles são muito diferentes. Gênios opostos, eu diria. Mas tem algo em comum. A liberdade. O desapego. O medo da entrega. Quem sabe ficando juntos encontram uma solução. Bem que podia né? Ela sempre pensou assim: “Pra ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia. Eu tenho que admirar.” E ele me parece um pedaço daquilo que a vida tem de mais charmoso. Ela estava ficando instigada. Que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Ela diria que ele salvou sua vida se não soasse tão dramático. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente. De repente ela percebeu que o amor era o instante em que o coração fica a ponto de explodir.

 Tati Bernardi

domingo, 26 de maio de 2013


"Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.
A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?"

 Tati Bernardi

domingo, 28 de abril de 2013

“E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário: por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”

— Machado de Assis, Dom Casmurro.

domingo, 21 de abril de 2013


''Entrei num restaurante com uma amiga e logo deparei com Carlinhos de Oliveira, o que me deu alegria. Olhei depois em torno. E quem é que eu vejo? Chico Buarque de Hollanda. Eu disse para Carlinhos: quando meus filhos souberem que eu o vi, vão me respeitar mais. Então Carlinhos, que se sentara na nossa mesa, gritou: Chico! Ele veio, fui apresentada. Para a minha surpresa, ele disse: e eu que estive lendo você ontem!
Chico é lindo e é tímido, e é triste. Ah, como eu gostaria de dizer-lhe alguma coisa - o quê? - que diminuísse a sua tristeza.
Contei a meus dois filhos com quem eu estivera. E eles, se não me respeitam mais, ficaram boquiabertos.
Então eu tive uma idéia e não sei se ela irá adiante; se for, contarei a vocês. Era chamar Chico e Carlinhos para me visitar em casa. Eu os verei de novo, e sobretudo meus filhos os verão. Falei dessa idéia e um de meus filhos disse que não queria. Perguntei por quê. Respondeu: porque ele é uma personalidade. Eu lhe disse: mas você também é, aos sete anos de idade ouvia tudo de Beethoven que tínhamos e pedia mais, tanto gostava e sentia e entendia. Mas quero respeitar meu filho. Disse-lhe: se eu convidar Chico, se ele vier, você só aperta a mão dele e, se quiser, sai da sala.
Também achei Carlinhos triste. Perguntei: por que estamos tão tristes? Respondeu: é assim mesmo. É assim mesmo.''
(Clarice Lispector, falando sobre Chico Buarque)

sábado, 20 de abril de 2013

“Eu também tive meu coração machucado. Me dei mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama.”
- Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Texto para um dos 3 caras da minha vida, Caju.


Ontem fez 55 anos que nasceu Agenor, um "garoto que queria mudar o mundo"... Feliz aniversário, Caju! Onde quer que você esteja sei que estás cantando e encantando e acredito que você sabe o quanto é importante pra essa "grande pátria desimportante", nos trouxe -através da música- uma bela "ideologia"... E que nós, os teus fãs, nos orgulhamos de ti e da tua "vida louca"!
Agradeço em nome de todos os teus fãs e em meu próprio nome, que tanto te preso, por todas as ideias e ideais que deixastes, esse é "um show que você sempre irá fazer parte", não é atoa que és um dos três caras da minha vida! 
Você, que é capaz de "transformar meu tédio em melodia"; é você, Caju, que narrar todos os meus "amores inventados" e "exagerados". Foi você que me ensinou a sempre "mostrar minha cara" e a "obedecer o extinto que o coração ensina ter". 
Rei de tantos corações exagerados, do meu coração que é metade teu, "amor, meu grande amor" eu só "preciso dizer que te amo", a ti dedico "todo amor que houver nessa vida" e juro "proteger teu nome por amor, em um codinome beija flor"...

Agenor de Miranda Araújo Neto : 4 de abril de 1958 — ∞; nosso eterno Cazuza.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Desistir de mim


“…..A questão era simples, para continuar ao seu lado, eu teria que desistir de mim, da minha liberdade, da minha visão desestressada da vida. E era o que estava muito próximo de ocorrer. Eu, uma adulta graduada, passei a agir como criança. Passei a me desprezar. Estava me tornando uma mulher medíocre, que perdia tempo dando explicações estapafúrdias sobre coisa nenhuma. Quando você chegava aqui em casa sorridente, com uma garrafa de vinho na mão e fazendo planos para o final de semana que passaríamos juntos, eu pisava em ovos para que este final de semana não terminasse dali a três horas por causa de um mal-entendido ou de uma frase que não caísse bem aos teus ouvidos. As vezes sobrevivíamos de sexta a domingo sem atravessar a fronteira de risco, mantendo-nos dentro de um cordão de isolamento imaginário – os limites que traçávamos para nosso equilíbrio conjugal. Eu não olhava para os lados e você não tirava os olhos de mim, e assim ficávamos seguros, ao menos em tese, porque de santo você não tinha nada, sempre foi mulherengo. Mas me adorava, me amava, nossa, como me amava.
E eu, será que ainda me amava??
Uma mulher que procurava não tocar em assuntos que pudessem resultar em atrito. Uma mulher que evitava ser espirituosa com receio de não ser compreendida. Uma mulher que não dava opiniões contundentes para não parecer moderna demais. Uma mulher que escondia o fato de ter encontrado um amigo na rua porque era um amigo e não uma amiga. Uma mulher que estava se tornando ciumenta também  porque não sentir ciumes poderia denunciar algum desinteresse. Uma mulher pouco parecida comigo, era esta mulher em quem eu estava me transformando.
Você que ao entrar na minha vida havia reinaugurado em mim uma sensualidade, uma vitalidade e uma alegria que estavam obstruídas havia muitos anos, inaugurava agora em mim uma criatura que não reconheço como sendo eu, uma mulher que pensava duas vezes antes de falar e que de forma vergonhosa desenvolveu um perfil careta, totalmente em desacordo com o que eu era de fato. Depois de ter sido solta por você, voltava a ser amarrada……”
Martha Medeiros in “Fora de Mim”
via poetriz

sábado, 16 de março de 2013

"Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar."

(Caio F Abreu)

"Acredito que quando alguém chora sem motivo é para aliviar todas as vezes que ela engoliu o choro e colocou um sorriso falso em seu rosto."

(Caio F. Abreu)

sábado, 9 de março de 2013

Se era amor? Não era.

"Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que? 
Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranquila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responde às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. 
Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência? 
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."
Martha Medeiros - Divã

quinta-feira, 7 de março de 2013

"Eu gosto de carinho violento. De falar. De estar certa.
De quem entende o que eu digo. De quem escuta o que eu penso.
Da minha prole. Dos meus discos. Dos meus livros.
Dos meus cachorros. Dos Stones. Do Rock Natural.
Da minha solidãozinha. Dos meus blues. Do meu sofá vermelho.
Da minha casa. Do meu umbigo. De unhas cor de carmim.
De homem que sabe ser homem. De noites em claro e dias em branco. De chuva e de sol.
Eu guardo as minhas rejeições em vidrinhos rotulados com o nome deles.
Eu sou mole demais por dentro pra deixar todo mundo ver.
Eu deixo pra quem eu acho que pode comigo.
(…) Eu tenho coração de moça."

Fernanda Young




"Não sei se quero descansar, por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir." 

Clarice Lispector




- Amor sopra minha nuca?
- Soprar sua nuca? Por quê?
- É que me deu uma vontade tão grande de ser passarinho
.

(André Gonçalves, via: The roly) 
"Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso."

Martha Medeiros.

quarta-feira, 6 de março de 2013

"Os bons morrem jovens (...)"

''Hoje, pela manhã, recebo a notícia de que Alexandre Magno Abrão (mas conhecido como Chorão) havia morrido. Um dos grandes poetas da música brasileira, um homem que fez história. Vai dizer que nenhuma música cantada por Chorão marcou sua vida? Seja se declarando pra uma menina, dizendo que você queria morar na rua dela, que o sorriso dela valia mais que um diamante ou seja cuidando de um amigo, vendo que ele corre do seu lado e te quer bem, porque isso, meus caros, é a coisa mais pura. Seja acordando com uma preguiça boa e dizendo que nada vai estragar seu dia. Seja vendo que na TV eles falam que o jovem não é sério, mas que na verdade o jovem no Brasil nunca é levado a sério, porém sabemos que um dia essa porra vai mudar. Seja dando valor em sua menina, porque sabe que se não cuidar dela bem melhor, vai ficar só o pó. Seja querendo sair pra rua para encontrar o amor. Seja aquele momento que você não é o senhor do tempo mas sabia que ia chover. Seja numa quinta-feira que te dominou. Seja você tomando cuidado pra que os desequilibrados não abalem sua fé. Seja quando você cansou e pronto, deixe viver, deixa ficar, deixe estar como estar, né?! Seja quando você olhando pra sua mãe, vendo que ela tem força, que ela tem sensibilidade, que ela é guerreira, é uma deusa, é mulher de verdade. É, somos todos puro sangue e sempre buscando um novo rumo que faça sentido, buscando aquela paz... E saiba, Chorão, que hoje eu segurei minhas lágrimas, pois, não queria demonstrar emoção. E na paz, na moral, você deixou saudade. Mas continuo por você e por mim."

(Jaqueline Pereira, via: Com açúcar, com afeto)


Obs. Devo confessar que esse texto lembra completamente uma amiga que é super fã do Chorão, a Juh Assunção; então vai pra ela também, por que sei como ela deve estar mal com tudo isso. Fique tranquila Juh, que agora ela tá do ladinho do Cazuza, da Cássia, do Renato e de todos os grandes! 

domingo, 24 de fevereiro de 2013


“No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento…”
— Mario Quintana.