quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Cartas para não sei quem"

Eu não preciso chorar para mostrar que estou triste. Nem gritar para dizer que sinto dor. Muito menos sorrir para deus e o mundo para provar que sou feliz. Não preciso aparentar para ser, demonstrar para estar. Meu mundo acontece aqui dentro. E ele não é menor ou maior que o seu: é simplesmente o meu. Ele é meu com todas as letras, ele é meu em cada palavra, com todos os silêncios, com todos os incêndios. Eu ouvi meu choro, eu escutei meu grito, eu senti minha dor e eu gargalhei em paz sem precisar invadir o seu mundo com coisas tão minhas, com coisas tão lindas, com coisas tão findas que se repetem infinitamente: aqui dentro. 
(Eu me chamo Antônio) 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nunca vou entender.


Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente pensa sem culpa na sua ex, cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode ter uma mulher mais gostosa do que eu, mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.
Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer ir no cinema com uma velha amiga. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais gostoso, como de fato já tive milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.
Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o cinema que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.
E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu (...). Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.
Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo pegar aquele cineminha, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
(Tati Bernardi)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

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“O que passo para as pessoas é muito mais do meu trabalho do que das coisas que faço fora dele. É claro que existe todo um folclore em torno do meu nome. Tudo quanto é matéria relacionada a bar, por exemplo, tem que ter o meu nome, por que sou realmente um frequentador da noite. Mas o que fica mesmo pras pessoas que consomem meu trabalho é a mensagem romântica que está no que escrevo. O meu trabalho tem muito essa coisa de cutucar a dor de amor. É o lado meio dark do amor que as pessoas curtem em mim. ” — Cazuza

terça-feira, 2 de julho de 2013

Se



Somos estações.

Somos estações! É isso, definitivamente somos estações. Já disseram que “algumas pessoas são feitas para se apaixonarem, mas não para ficarem juntas” e somos assim, completa e totalmente assim;  por isso somos estações, estamos –sempre- apenas de passagem pela vida um do outro. Eu não saberia ficar pra sempre com você e você não saberia lidar com as minhas loucuras matinais, eu não aguentaria suas ex-ainda-apaixonadas e você não gostaria dos meus ex-ainda-melhores-amigos, eu não saberia ver as milhares de meninas dando em cima de ti e você não saberia como falar ‘’não gosto de teres tantos amigos homens”; não saberíamos conviver assim. Ou melhor, poderíamos aprender um com o outro, eu te ensinaria a ver que meus amigos são apenas amigos e você me mostraria que eu não preciso me preocupar, que se você estivesse comigo era comigo que queria estar. Poderíamos.

Eu não digo que somos apaixonados um pelo outro,  mas sei que gostamos da presença e sentimos a ausência, sempre sentimos a ausência (mesmo não percebendo) e sei que gostamos um do outro (não digo um gostar completamente romântico, mas um gostar meio louco e sem explicações). Passamos vários tempos afastados e só quando você reapareceu que eu pude notar o quanto me fez falta, o quanto é bacana ter alguém com quem se sentir a vontade pra agir e falar o que vier em mente é permitido, o quanto é legal ter um amigo que pode ser bem mais que isso. Mas não somos apaixonados um pelo outro, gostamos da amizade e da liberdade entre nós, gostamos da convivência tão sem neuras que temos juntos, somos loucos pela falta da necessidade de explicar cada atitude tomada ou o porque de ter feito (ou não feito) tal coisa; gostamos da simplicidade do estar juntos apenas por ser bom estarmos juntos.

Gostaria de saber o seu lado de tudo isso, se você concorda comigo ou se tem algo mais ou algo menos, mas por enquanto, enquanto não sei, somos e continuamos estações. Então, somos assim, somos passagem! É ótimo enquanto está acontecendo, mas ainda não é pra sempre. Talvez, em algum dia, sejamos pra sempre, aí deixaremos de ser estação para sermos estadia, para sermos morada um do outro; mas isso é pra um dia e não pra agora, por enquanto ainda somos estações. Quem sabe as coisas mudem antes que aconteça, mas, como normalmente acontece, estações vem e vão. E se dessa vez nós "formos" de novo, eu te digo: nos vemos em breve, até a próxima estação, meu bem! 
Lorena Brito