sexta-feira, 29 de março de 2013

Desistir de mim


“…..A questão era simples, para continuar ao seu lado, eu teria que desistir de mim, da minha liberdade, da minha visão desestressada da vida. E era o que estava muito próximo de ocorrer. Eu, uma adulta graduada, passei a agir como criança. Passei a me desprezar. Estava me tornando uma mulher medíocre, que perdia tempo dando explicações estapafúrdias sobre coisa nenhuma. Quando você chegava aqui em casa sorridente, com uma garrafa de vinho na mão e fazendo planos para o final de semana que passaríamos juntos, eu pisava em ovos para que este final de semana não terminasse dali a três horas por causa de um mal-entendido ou de uma frase que não caísse bem aos teus ouvidos. As vezes sobrevivíamos de sexta a domingo sem atravessar a fronteira de risco, mantendo-nos dentro de um cordão de isolamento imaginário – os limites que traçávamos para nosso equilíbrio conjugal. Eu não olhava para os lados e você não tirava os olhos de mim, e assim ficávamos seguros, ao menos em tese, porque de santo você não tinha nada, sempre foi mulherengo. Mas me adorava, me amava, nossa, como me amava.
E eu, será que ainda me amava??
Uma mulher que procurava não tocar em assuntos que pudessem resultar em atrito. Uma mulher que evitava ser espirituosa com receio de não ser compreendida. Uma mulher que não dava opiniões contundentes para não parecer moderna demais. Uma mulher que escondia o fato de ter encontrado um amigo na rua porque era um amigo e não uma amiga. Uma mulher que estava se tornando ciumenta também  porque não sentir ciumes poderia denunciar algum desinteresse. Uma mulher pouco parecida comigo, era esta mulher em quem eu estava me transformando.
Você que ao entrar na minha vida havia reinaugurado em mim uma sensualidade, uma vitalidade e uma alegria que estavam obstruídas havia muitos anos, inaugurava agora em mim uma criatura que não reconheço como sendo eu, uma mulher que pensava duas vezes antes de falar e que de forma vergonhosa desenvolveu um perfil careta, totalmente em desacordo com o que eu era de fato. Depois de ter sido solta por você, voltava a ser amarrada……”
Martha Medeiros in “Fora de Mim”
via poetriz

sábado, 16 de março de 2013

"Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar."

(Caio F Abreu)

"Acredito que quando alguém chora sem motivo é para aliviar todas as vezes que ela engoliu o choro e colocou um sorriso falso em seu rosto."

(Caio F. Abreu)

sábado, 9 de março de 2013

Se era amor? Não era.

"Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que? 
Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranquila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responde às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. 
Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência? 
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."
Martha Medeiros - Divã

quinta-feira, 7 de março de 2013

"Eu gosto de carinho violento. De falar. De estar certa.
De quem entende o que eu digo. De quem escuta o que eu penso.
Da minha prole. Dos meus discos. Dos meus livros.
Dos meus cachorros. Dos Stones. Do Rock Natural.
Da minha solidãozinha. Dos meus blues. Do meu sofá vermelho.
Da minha casa. Do meu umbigo. De unhas cor de carmim.
De homem que sabe ser homem. De noites em claro e dias em branco. De chuva e de sol.
Eu guardo as minhas rejeições em vidrinhos rotulados com o nome deles.
Eu sou mole demais por dentro pra deixar todo mundo ver.
Eu deixo pra quem eu acho que pode comigo.
(…) Eu tenho coração de moça."

Fernanda Young




"Não sei se quero descansar, por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir." 

Clarice Lispector




- Amor sopra minha nuca?
- Soprar sua nuca? Por quê?
- É que me deu uma vontade tão grande de ser passarinho
.

(André Gonçalves, via: The roly) 
"Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso."

Martha Medeiros.

quarta-feira, 6 de março de 2013

"Os bons morrem jovens (...)"

''Hoje, pela manhã, recebo a notícia de que Alexandre Magno Abrão (mas conhecido como Chorão) havia morrido. Um dos grandes poetas da música brasileira, um homem que fez história. Vai dizer que nenhuma música cantada por Chorão marcou sua vida? Seja se declarando pra uma menina, dizendo que você queria morar na rua dela, que o sorriso dela valia mais que um diamante ou seja cuidando de um amigo, vendo que ele corre do seu lado e te quer bem, porque isso, meus caros, é a coisa mais pura. Seja acordando com uma preguiça boa e dizendo que nada vai estragar seu dia. Seja vendo que na TV eles falam que o jovem não é sério, mas que na verdade o jovem no Brasil nunca é levado a sério, porém sabemos que um dia essa porra vai mudar. Seja dando valor em sua menina, porque sabe que se não cuidar dela bem melhor, vai ficar só o pó. Seja querendo sair pra rua para encontrar o amor. Seja aquele momento que você não é o senhor do tempo mas sabia que ia chover. Seja numa quinta-feira que te dominou. Seja você tomando cuidado pra que os desequilibrados não abalem sua fé. Seja quando você cansou e pronto, deixe viver, deixa ficar, deixe estar como estar, né?! Seja quando você olhando pra sua mãe, vendo que ela tem força, que ela tem sensibilidade, que ela é guerreira, é uma deusa, é mulher de verdade. É, somos todos puro sangue e sempre buscando um novo rumo que faça sentido, buscando aquela paz... E saiba, Chorão, que hoje eu segurei minhas lágrimas, pois, não queria demonstrar emoção. E na paz, na moral, você deixou saudade. Mas continuo por você e por mim."

(Jaqueline Pereira, via: Com açúcar, com afeto)


Obs. Devo confessar que esse texto lembra completamente uma amiga que é super fã do Chorão, a Juh Assunção; então vai pra ela também, por que sei como ela deve estar mal com tudo isso. Fique tranquila Juh, que agora ela tá do ladinho do Cazuza, da Cássia, do Renato e de todos os grandes!