terça-feira, 17 de junho de 2014

Será que eu sou a única idiota do mundo?

Olho para a pilha de papéis que devo ler e anotar em vermelho e penso: caguei. Preferia umas cem vezes te ver saindo do banho novamente, limpo de mim. Pronto pra se sujar de mim novamente. Aí olho para essa pilha de livros que ensinam a roteirizar e penso: grande merda. Prefiria repassar pela milésima vez o roteiro que começa com você me beijando mais intenso, evolui pra você me beijando mais pra baixo e termina com você me beijando já sem forças.
Daqui a quarenta minutos chega o Paulão, meu personal. Mas eu olho para a minha roupinha de ginástica esticadinha em cima da cama e penso: foda-se. Preferia ouvir você dizendo de novo: vai, é sua vez de malhar. Preferia me irritar de novo com a sua preguiça de ficar em cima.
Chegou um e-mail com a programação completa do meu curso de yoga. Chegou outro com uma planilha de Excel cheia de datas que eu devo cumprir. Chegou outro com a mais nova modalidade de assalto na Henrique Schaumann. Grande bosta. Eu só queria que chegasse um e-mail seu. Ou melhor: que você chegasse ao vivo. E que você me trouxesse aqui a sua barriga, a sua nuca, a parte mais branca das sua coxas, a sua cara de bravo até pra sentir prazer e o seu cheiro de cigarro com amaciante. Me traz você, por favor. Me traz e leva embora todas essas coisas chatas que só servem para ocupar minhas horas enquanto você não chega.
Meu jornal me diz que a Record comeu uma boa parte do share. E eu querendo comer você. Minha revista me diz que a Petrobrás comprou a Ipiranga. E eu querendo te trazer numa sacola e te usar dos pés à cabeça. A internet me diz que a crise aérea não tem solução. E essa minha saudade de você? Será que tem? Não, o segundo casamento não é uma praga papa, praga é sentir isso. Praga é acumular jornais, revistas, livros e papelada. Tudo sem ler. Tudo sem sentir. Porque me jogar pelos cantos e suspirar você é só o que eu consigo fazer.
Aí eu tomo um banho bem quente, pra te espantar da minha pele. E canto bem alto, pra te espantar da minha alma. E escovo minha lingua bem forte, pra separar seu gosto do meu. E quase vomito, pra parir você do meu fígado. E tento ser prática e parar de suspirar. E tento abrir a geladeira sem me perguntar o que eu poderia comprar pra te agradar. E tento me vestir sem carregar a esperança de esbarrar com você por aí. E tento ouvir uma música sem lembrar que você gosta de se esfregar de lado em mim. E tento colocar uma simples calcinha e não uma bala perdida pronta pra acertar você. E tento ser só eu, simplesmente eu, novamente, sem esse morador pentelho que resolveu acampar em mim. E nada disso adianta. E o esforço pra não fazer nada disso já é fazer tudo isso.
E eu escrevo um parágrafo e corro pra ver se tem e-mail. E eu escrevo uma linha e corro pra ver se tem mensagem de texto. E eu não escrevo nada e também não corro, apenas deixo você chegar aqui do meu lado, em pensamento. E me pego sorrindo, sozinha. E me pego nem aí para todo o resto.
Mas sabe o que acontece enquanto isso? Enquanto eu não me movo porque estou lotada de você e me mover pesa demais? O mundo acontece. O mundo gira. As pessoas importantes assinam contratos, ganham dinheiro. As pessoas simples lutam por um lugar na condução, um lugar no mundo. Estão todos lutando. Estão todos ganhando dinheiro. Estão todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar como uma idiota e só pensar em você.
Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas, evoluídas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio com a hora de desejar alguém na escada do condomínio. A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguém. A hora de procurar a palavra “macambúzio” no dicionário com a hora de se perder com as suas palavras que de tão simples parecem complexas. A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo enquanto você dá sinais desmembrados.
Eu não consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo, bagunço tudo. A minha única dúvida é se sou a única idiota a fazer isso comigo ou se sou a única idiota a admitir que faço isso comigo.
 (Tati Bernardi) 

sábado, 26 de abril de 2014

Um texto sobre como eu te conheci

Quando eu o conheci, não o reconheci. 
Não foi óbvio o bastante pra que se tornasse inesquecível. 
Nunca poderei dizer que desde o primeiro momento sabia que seríamos um pro outro.
Não foi mágico como dizem nos filmes, sequer foi romântico.
Deixei de lado o desejo de esbarrar com um amor avassalador na fila do pão.
Parei com a mania de procurar em qualquer gesto uma pista do destino que aquele era o cara.
Eu estava à toa, meio de qualquer jeito.
Sinceramente, eu havia perdido um pouco a esperança.
Ou, talvez, a inocente vontade de me apaixonar de novo.

Já não tinha mais espaço na minha vida pra me perder em sorrisos falsos, pra desmascarar amores roubados.
Não mais me sentia no dever de provar que estava em pé novamente, que um coração inteiro se faz de pequenos pedaços.
Milhares deles, por sinal.   
Quando o conheci, não o reconheci porque, simplesmente, aprendi a ser egoísta.
E não me arrependi.
Esquecer como pensar por dois é consequência da abstinência.
Aos poucos, me acostumei com o vazio, com a inexistência de duas metades, com uma cama sem lados dispostos.
Ser egoísta é, dentre muitos pesares, o deleite de ser vazia.
Meio rebelde, quase inconsequente.
Mas capaz de se preencher de qualquer coisa por completo.
Não tinha tempo na minha vida pra ele, nem diálogos imaginários de nós dois.
Não estava pronta pra me dividir, tampouco me doar à alguém.
Eu também me queria por inteira.
Quando o conheci, não o reconheci porque desenvolvi uma angustiante mania de não me perder.
Passei a desviar do menor risco de me desconstruir.
Era como se eu não pudesse, nem por segundo, titubear.
Ensaiava piadas infames e risadas de deboche pra me defender de quem tentasse se envolver.
contece que ser egoísta também é tecer uma teia de inseguranças.
Ser tão centrada em si é a falta de espontaneidade.
É o medo de deixar de ganhar em situações que não se tem nada em jogo.
E eu apostava todas minhas fichas na minha confortável solidão.
Porque me parecia muito melhor noites sozinhas do que dias de aflições por sentimentos questionáveis.
Quando o conheci, não o reconheci porque, honestamente, eu estava sobretudo cansada.
Cansada de me fazer acreditar em mentiras deslavadas, em desculpas esfarrapadas.
Eu estava cansada da teoria que não se põe em prática, de fingir sentimentos que nunca tive e omitir à sete chaves todos aqueles que me consumiam aos poucos.
Estive cansada de tentar e de entender minhas escolhas por tanto tempo quanto pude culpar aos céus por tê-las tido.
Ou pelo tempo que já não me bastava mais crer em santos, destinos e até anjos.
E toda culpa que senti por não ter com o que preencher a metade que nunca me faltou, deu lugar ao cansaço da alma sobre o corpo.
Da mente sobre o espírito.
Eu decidi, em secreto desafio às crenças, que não procuraria mais ouvir sinos em beijos, nem descompensadas serenatas na janela.
Quando eu o conheci, não o reconheci porque já havia me desfeito de grande parte do meu passado, de pessoas que não valeram a pena, das roupas que ficaram apertadas e das pedras que juntei no caminho.
Sem que coubesse em mim planos de um futuro próximo e sequer o descontentamento.
Eu estava à toa, meio de qualquer jeito.
Quando eu o conheci, ignorei a força com que meu coração batia e a incontrolável crise de riso que senti.
Eu duvidei de minha própria sanidade e do fardo que mantive intacto dos relacionamentos anteriores.
Suei de mãos frias e de nervoso bati o queixo.  
Eu fantasiei à contragosto o retrato do meu passado.
Voltei no tempo, ao dia em que me perdi em desespero e furiosa jurei nunca mais passar por isso e nem assim pude me conter.
Eu não sabia que era ele.
Despretensiosamente, não sabia que era ele porque deixei de acreditar que deveria ter alguém feito pra mim e que juras de amor eterno me dariam um pra sempre.
Eu calada fiquei quanto as expectativas, quanto todas as tentativas.
Finalmente, eu entendi porque eu tive que desacreditar de tudo para acreditar em nós; enquanto eu estava à toa, era ele que me procurava.
E eu nunca o teria conhecido se não tivesse parado de juntar meus cacos.
Não foi o acaso que o fez me encontrar, mas o fato de que eu já sabia caminhar sozinha.
(Samantha Silvany)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Faz de mim casa da tua morada,
Porto da tua chegada
E acalento do teu coração. 
(Lorena Brito)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

"O meu amor"


O meu amor tem um jeito manso que é só seu e que me deixa louca. Quando me beija a boca a minha pele toda fica arrepiada. E me beija com calma e fundo, até minh'alma se sentir beijada, ai. 
O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes. Depois brinca comigo, ri do meu umbigo e me crava os dentes, ai.

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz. Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz


O meu amor tem um jeito manso que é só seu, de me deixar maluca quando me roça a nuca e quase me machuca com a barba malfeita. E de pousar as coxas entre as minhas coxas quando ele se deita, ai.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu. De me fazer rodeios, de me beijar os seios, me beijar o ventre e me deixar em brasa. Desfruta do meu corpo, como se o meu corpo fosse a sua casa, ai



(O meu amor, Chico Buarque)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Sobre os seus olhos

Olhar-te nos olhos é pedir pra se prender, se perder, te querer. Eu não sei o que eles tem de tão contagiante, ou melhor, eu sei, só não sei te explicar. Já viu algo tão simples mas tão interessante ao mesmo tempo? Algo para o qual você quer olhar por todo o tempo em que lhe for permitido? Algo para o que você olha sem saber explicar porque exatamente esta olhando? Seus olhos são assim. Não são verdes ou azuis, mas são lindos, são sinceros e, acima de tudo, são a coisa que eu mais gosto dentre todas: eles são seus.

(Lorena Brito)

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O salto


A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato — pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente — você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.

Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas — mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte — quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo — o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão –, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

(Antonio Prata)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Por ter


Não, não foi o cara mais lindo de todos, nem o mais forte ou o de olhos mais bonitos que me atraiu. Foi você. É você. E, na verdade, pra mim, os seus olhos são os mais bonitos, não só pela cor "normal" que eles tem, mas pela beleza que eles tem dentro, não apenas bonitos, mas sim verdadeiramente lindos (e sinceros). Em geral, você é o mais bonito de todos pra mim; eu aprendi a olhar com outros olhos, e com esses olhos, que enxergam mais longe, você é o mais bonito de todos, por dentro, por fora, do avesso ou de qualquer maneira. E não só por esses atributos que foi você e é você, é por seres quem és, por me tornares quem sou, é por você ser você, é por ter mexido comigo como ninguém fez antes, por ter o melhor gosto musical (até mesmo as músicas secretas), é por ter a barba malfeita mais linda do mundo, por ter os melhores elogios na hora certa, é por ter os carinhos ideais, é por me fazer sorrir sem precisar falar nada, é por me olhar nos olhos e me fazer querer congelar aquele momento, é por tudo, por ter a personalidade mais bonita que um cara já teve comigo, com erros, sabe? Claro que com erros, mas com erros que se não fossem tão seus você não seria tão você. Enfim, eu não sei explicar todos os 1001 motivos de eu gostar de você, só sei que foi você, é você e vai continuar sendo você. 
Ps. Sabe quando a gente vê algo tão lindo que queria que nossos olhos fossem uma câmera fotográfica? É o que eu sinto sempre que olho pra você.

(Lorena Brito)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Querer

Ainda não sei direito como lidar com essa vontade estranha de tanto te querer, de querer que teus cabelos se misturem aos meus, que a tua pele encontre a minha, de querer segurar tua mão e depois te fazer cafuné, de querer te fazer sorrir, rindo logo em seguida do elogio besta que você faria sobre qualquer coisa minha. Eu não sei como lidar com essa vontade de te querer além das barreiras, além dos "e se...", além do que vão pensar. Além de qualquer coisa.

(Lorena Brito)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Falhas

Tocar no corpo e sentir as falhas, a saliência no fim da barriga, o seco nos lábios finos e a escuridão crescente de baixo dos olhos... ah, esses olhos que tanto já viram e tanto mais absorveram. A vida sempre parece início, mesmo próximo do fim; mas o corpo revela a passagem do tempo ainda que a vida continue seguindo, indolor e leve. E cada falha nao é um erro, é um acerto. Um acerto de contas com o tempo.

(Lorena Brito)

O que nunca foi


Eu queria sentir de novo como naqueles dias em que eu te achava bonito e certo, aqueles quando conversar com você era a alegria dos meus dias. Esse não é um texto de rancor, é só que, por vezes, é quase inacreditável o quanto as coisas mudam em um curto espaço de tempo; em um dia eu só queria a sua atenção, no outro não queria ouvir uma palavra que saia da sua boca e hoje? Hoje eu só posso dizer que não quero mais nada. Seria legal usar aquela frase que diz "O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim", só que não existe fim para o que nunca começou, e sem começo é fácil dizer adeus. Apesar de ser loucura dizer adeus para o que não existiu.

(Lorena Brito, em Janeiro de 2014)

Casamento: modo se usar

Case-se com alguém que adore te escutar contando algo banal como o preço abusivo dos tomates, ou que entenda quando você precisar filosofar sobre os desamores de Nietzsche. Case-se com alguém que você também adore ouvir. É fácil reconhecer uma voz com quem se deve casar; ela te tranquiliza e ao mesmo tempo te deixa eufórico como em sua infância, quando se ouvia o som do portão abrindo, dos pais finalmente chegando. Observe se não há desespero ou insegurança no silêncio mútuo, assim sendo, case-se. Se aquela pessoa não te faz rir, também não serve para casar. Vai chegar a hora em que tudo o que vocês poderão fazer, é rir de si mesmos. E não há nada mais cruel do que estar em apuros com alguém sem espontaneidade, sem vida nos olhos. Case-se com alguém cheio de defeitos, irritante que seja, mas desconfie dos perfeitinhos que não se despenteiam. Fuja de quem conta pequenas mentiras durante o dia. Observe o caráter, antes de perceber as caspas. Case-se com alguém por quem tenha tesão. Principalmente tesão de vida. Alguém que não lhe peça para melhorar, que não o critique gratuitamente, alguém que simplesmente seja tão gracioso e admirável que impregne em você a vontade de ser melhor e maior, para si mesmo. Para se casar, bastam pequenas habilidades. Certifique-se de que um dos dois sabe cumpri-las. É preciso ter quem troque lâmpadas e quem siga uma receita sem atear fogo na cozinha; é preciso ter alguém que saiba fazer massagem nos pés e alguém que saiba escolher verduras no mercado. E assim segue-se: um faz bolinho de chuva, o outro escolhe bons filmes; um pendura o quadro e o outro cuida para que não fique torto. Tem aquele que escolhe os presentes para as festas de criança e aquele que sabe furar uma parede, e só a parede por ora. Essa é uma das grandes graças da coisa toda, ter uma boa equipe de dois. Passamos tanto tempo observando se nos encaixamos na cama, se sentimos estalinhos no beijo, se nossos signos se complementam no zodíaco, que deixamos de prestar atenção no que realmente importa; os valores. Essa palavra antiga e, hoje assustadora, nunca deveria sair de moda. Os lábios se buscam, os corpos encontram espaços, mas quando duas pessoas olham em direções diferentes, simplesmente não podem caminhar juntas. É duro, mas é a verdade. Sabendo que caminho quer trilhar, relaxe! A pessoa certa para casar certamente já o anda trilhando. Como reconhecê-la? Vocês estarão rindo. Rindo-se.

(Diego Engenho Novo)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CARTA DE DESPEDIDA
Por: Isabela Freitas

Ei, sem raiva tá? Leva um pedaço do meu coração e me dá em troca um pedaço do teu. Leva também um sorriso pra viagem e não se esqueça das vezes em que eu te disse o quanto você era incrível. Quero que você nunca duvide do seu potencial e que não desista da faculdade de Medicina, eu sei que você vai conseguir. Aquela viagem pra Europa pode esperar uns anos, e quem sabe não nos reencontramos por lá? Lembre-se dos momentos bons e das conversas até tarde das madrugadas frias. Diga a seus pais que vou sentir falta. Cuide bem do Dolph, nosso golfinho de pelúcia. Engraçado, ainda me lembro do dia em que você me deu ele. Estávamos na feira da cidade e eu disse que odiava bichos de pelúcia, bem, é claro que você fez questão de comprar um só pra me irritar. Ninguém sabe o quanto tive vergonha de andar com aquele bicho pra lá e pra cá. Só você. Só você sabia colocar borboletas no meu estômago. Só você tinha capacidade de amolecer meu coração de pedra com um sorriso. Ah, o seu sorriso. Posso levar ele comigo? Posso abraçar suas roupas que ficaram aqui em casa só para sentir seu cheiro? Acho que posso. Você virou meu mundo de cabeça pra baixo e agora eu preciso colocá-lo nos eixos. Só te peço para que por favor, não se torne o tipo de cara que leva consigo só os problemas e as más recordações. Lembre-se dos abraços, dos beijos de reconciliação, das músicas que cantamos juntos escutando o rádio, dos momentos em que nossos olhos se encontravam, do toque da minha mão, do perfume que eu passava só porque você pedia, das flores que você roubou, dos filmes que assistimos, das gargalhadas que eu te proporcionei com meu jeito destrambelhado, das vezes em que eu fazia algo de errado e aparecia com cara de criança sapeca. Lembre-se do meu jeito implicante que tanto te irritava, da minha mania de deixar as roupas jogadas no chão e principalmente, do quanto eu te amei. Não se esqueça do dia em que nos conhecemos e do dia em que nos despedimos.
Para cada despedida há a esperança de um reencontro. Não deixe de acreditar, não me deixe afastar demais. Tá tudo errado. Não devemos esquecer nunca como uma pessoa nos fez sentir só porque ela se foi. Então não esquece, tá? Me dê um último abraço e vamos em direção ao futuro.

domingo, 29 de setembro de 2013

Um simples gostar

Hoje eu quero paz de espirito e um gostar simples. Daqueles rotineiros e apaziguadores, que a gente possa se pacificar juntos, assim, bem cadente de nós, bem gostoso, bem simples…
Não quero mais consternações, teorias ou joguinhos premeditados, só quero sentar, olhar a paisagem e vagar entre os sorrisos tranquilos e certos, de que ali, existe alguém que talvez não seja a paixão mais louca do mundo, mas que entende a valia da palavra sinceridade e sua influência na felicidade alheia.
Eu não falo de amores modernos e de sentimentos quase que, imensuráveis, mas de um gostar simples, sereno, confiante, leve, brando… Daqueles que se gosta pelo que se é, não pelo o que se tem ou o que se faz. Daqueles erguidos e mantidos pela sinceridade. Daqueles que seguram-se as pontas quando necessário e transformam nós em laços.
Emoções são boas, loucuras também, mas hoje estendo meu direito de querer ser simples. Eu e você, quer mais simples que isso? Não quero muita coisa não, conforto no olhar e compreensão no sorriso já basta. Só quero calmaria, trilhar um caminho fresco e sonhar enquanto passeamos nas veredas da vida.
Então talvez eu tenha cansado de conhecer e desconhecer pessoas. Talvez eu tenha cansado de ter que ficar redescobrindo a confiança nas pessoas que me circulam. Hoje só quero paz, tranquilidade e sorrisos sinceros. Na verdade, quero tudo sincero, é só isso que eu preciso. Você e sua sinceridade, o resto a gente decide amanhã no café da manhã…

sábado, 21 de setembro de 2013

Acredite



Porque nunca consigo me livrar de você? Porque você insiste em não sair dos meus pensamentos de uma vez por todas? Acredito que uma semana foi o tempo máximo que passei sem pensar em você, e isso é uma droga. Como alguém pode pensar tanto assim em uma pessoa que "não está nem aí"?
A um certo tempo atrás vivi meses sem nem lembrar que você existia, já tínhamos amizade, já tínhamos histórias e principalmente já tínhamos experiências. Mas mesmo assim quando eu me afastei foi como se você nunca tivesse existido. Porque dessa vez não é assim? O que mudou? O que aconteceu? Acredito que eu mudei. Acredito que agora eu me importo, comigo, com você, com os outros. Acredito que agora eu me importo com o que eu possa sentir. Com o que eu não quero sentir.

Acredite, eu não quero sentir nada por você! Nunca quis e não é agora que vou começar a querer, mas já era certo quando diziam que “querer não é poder”. Não sinto nada demais por você, não morro de amores, mas sinto alguma coisa, alguma coisa que é de menos. Só que um de menos que incomoda.
Acredito que incomoda porque é vazio, porque é solitário, porque é triste. Acredito que isso me dilacera por dentro, já que é sofrer em demasia gostar de quem não gosta de ti. Acredito que eu deva pra lutar pra que essa “coisa de menos” não cresça dentro de mim. E luto. Mas ainda assim acredito, principalmente, que um dia você vai acreditar que me amar será a melhor saída. 

(Lorena Brito)

domingo, 15 de setembro de 2013


Gostaria de usar toda a beleza das palavras para lhe escrever um texto simples, onde eu te falaria o quanto é bom pensar em você e o quanto isso me faz bem. Mas não posso, não me faz bem pensar em você, não é bom. Percebi, depois de muito apanhar da vida, que pensar em você dói, que me imaginar com você faz mal. Que você me faz mal. Não queria que fizesse. Gosto de você e uma parte de mim acredita que você sente o mesmo, mas até a crença dessa parte esta morrendo. Você desaparece do mapa e só me procura quando é conveniente, que amor é esse que só acende nas horas vagas? Que amor é esse que só aparece no momento bom da vida? Isso não é amor, é solidão. Solidão sua que faz você me procurar quando quer mata-la. Solidão sua que se torna minha logo depois que você se vai.

(Lorena Brito) 

terça-feira, 10 de setembro de 2013


Daí a gente dorme. Dorme porque isso ainda se pode. Não de conchinha, mas dorme. Daí a gente sonha. Não com alguém, mas com o desejo de ir além. Daí a gente acorda. Não ouvindo um “bom dia”, mas torcendo pra ser. Daí a gente vive. Não só por viver, mas pra tirar do singular, tudo que a gente sonhou plural.

(Matheus Rocha)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que você fez comigo? (Isabela Freitas)


- Desculpe-me por ser tão exagerada.

Disse, após dar uma gargalhada tão alta que chamou atenção de todo o restaurante. Eu queria mesmo não ser tão exagerada, quero dizer, eu precisava mesmo achar a história que ele me contou tão engraçada assim? Olha, precisava. A avó dele perdeu a dentadura no meio de um jantar de família, isso era mesmo muito engraçado. Eu só poderia ter me contido, né? Ter dado aquele sorrisinho meigo que as garotas de filmes fazem, com as mãos na boca, enquanto lançava um olhar sexy que insinuaria que era o timing perfeito para ele me dar um beijo. Mas não, é claro que não, a Senhorita Exagero teve que gargalhar alto, e não satisfeita, derrubar o garfo no chão logo em seguida. Porque é claro, a Senhorita Exagero era também Estabanada. Perfeito. Nada de beijo, nem timing perfeito.

Toda vez em que exagero nas reações lembro-me da minha avó dizendo "Essa menina não consegue ser pouco, né?''. É, querida vovó, eu ainda não consigo ser pouco. E aproveitando o parênteses, desculpe-me por te envergonhar todas às vezes em que você me levava na Igreja e eu perguntava em voz alta:

- Ô vó, por que sempre que eu venho aqui é a mesma coisa?
- Shiu menina, não fala isso. - ela me respondia, entre dentes. E eu continuava, sem entender muito bem.
- Mas vó, É A MESMA COISA TODA VEZ, AS MESMAS MÚSICAS. Pede pro padre cantar aquela da Xuxa, pede vó! - e fazia beicinho.

E isso aí não foi nada perto do dia em que puxei a barra da vestimenta do Padre e perguntei se ele conhecia a música "Dança do Coco'', que claro, a Xuxa cantava. Ele me respondeu com um sorrisinho, seguido de uma advertência para minha avó "Essa aí é uma figura, hein?'' Vergonha, vergonha. Por que eu era assim? Deveria ser mais fácil segurar os pensamentos na boca. Que os pensamentos ficassem só em pensamentos, e que eles não fossem tão exagerados. Ou sonhadores.

Eu era a melhor quando se tratava de relacionamentos, diziam minhas amigas. Fria, calculista, não demonstrava muito, tampouco escondia tanto. Era ''na medida''. Todos meus relacionamentos duravam um tempo aceitável, o suficiente para que eu enjoasse de toda aquela sutileza e sensatez. Sensatez. Por que meus relacionamentos eram tão sensatos? Calmos? Não aceleravam o coração? Talvez eu fosse mesmo a melhor, conseguia até controlar os batimentos do coração, as borboletas no estômago. Devia ser isso, é claro que era isso. Obrigada vida, eu era uma sabe tudo dos relacionamentos.

Até você aparecer.

No dia que te vi pela primeira vez conversando com meu melhor amigo, tive ânsia de vômito. Não sabia se a sua presença provocava isso em mim, ou se a culpada era a bebida em que segurava nas mãos. Por via das dúvidas, joguei a bebida fora. Você sorriu, eu tropecei. Sorri de volta. Estava escuro, talvez você nem tenha notado que eu perdi o equilíbrio. Perguntou meu nome, não entendi. Fiz sinal de que não estava escutando. Você perguntou de novo, e eu não entendi de novo. Sorri. Só conseguia prestar atenção nas suas mãos nas minhas costas, e no seu perfume que tinha o cheiro de céu. Céu.

- Seu nome é Céu?

Meu Deus. Eu disse isso em voz alta, é isso mesmo? O que estava acontecendo comigo? Você  não sabe tudo sobre relacionamentos? Vamos lá garota, aja como se fosse normal.

- Céu? Não, você entendeu errado. Eu estava perguntando qual o seu cel. Celular.

E foi assim que eu pedi o telefone de um completo desconhecido que mexia com os meus hormônios, e me fazia falar coisas sem pensar. Assim como o Padre da Igreja da minha vó. Tirando a parte dos hormônios. Desconhecido esse que agora era o meu namorado, estava sentado de frente para mim em um restaurante, e me olhava com cara de quem não entende o que se passa.

- Linda, tá me ouvindo?

É claro que eu não estava te ouvindo. Eu nunca te ouvi, nunquinha. Toda vez que você abre a boca eu me perco. Me perco nos seus lábios, no seu sorriso, e no som que a sua voz faz quando me conta algo empolgado. Me perco nos seus olhares apreensivos, e no modo que suas mãos se mexem tentando exemplificar o que está dizendo. Eu me perco todinha. Não sei se você nota, deve notar, porque depois que conta algo nem se dá o trabalho de perguntar se eu entendi. Eu nem ouvi. Você me distrai demais, essa é a verdade. Então perdoe-me por ser tão exagerada às vezes, é que toda vez que você me faz sorrir, tenho vontade de te abraçar forte e dizer que você é o máximo. Mas isso soaria estranho, não é? Então eu apenas dou uma gargalhada. Às vezes alta demais.

Cadê aquela garota que sabia tudo sobre relacionamentos? Procura-se. Eu odeio o fato de não saber como agir quando estou ao seu lado. Devo colocar minha cabeça no se ombro enquanto assistimos um filme? Puxar sua mão quando atravessamos a rua? Cantar nossa música em voz alta quando ela toca na rádio? Eu odeio não saber a hora certa de dizer as coisas. Quero dizer, eu sou intensa demais. E se isso te assustar? Você se assustaria se eu confessasse que espero você dormir, só para poder te observar enquanto dorme?Provavelmente sim, eu me assustaria. Também odeio sentir meu rosto queimando toda vez que você me elogia. Aliás, dá pra parar de me elogiar? Eu sinto meu estômago queimar como se um enorme balão estivesse pronto para decolar. Pegando fogo. Assim como meu rosto. E eu não gosto disso. Na verdade, eu gosto muito. E é por isso que é um problema.

Nós somos um problema, não vê? Você me faz suar frio, derrubar objetos, e gaguejar enquanto falo. Isso não pode ser normal, nós não somos normais. A sua presença me deixa nervosa, e o meu estômago se tornou o lar das borboletas de todo o país. Talvez de todo o mundo. Por Deus! Só de escutar o seu nome já me arrepio toda. Qual era o meu problema? Será que preciso de um psicólogo? Não, não, PSIQUIATRA? Deve ser. Começo o meu tratamento na segunda-feira, sem furos.

E enquanto eu pensava todas essas coisas, você me interrompe com um:

- Ei, eu adoro quando você fica pensativa assim.

E eu tenho vontade de responder com "E eu adoro quando você diz que me adora quando fico pensativa."

Mas não, ia parecer clichê e bobona demais. Então eu sorrio e digo:

- Você é um bobo mesmo.

E é aí que você me puxa e dá mais um daqueles beijos que tem gosto de intensidade. Intensidade. É tudo que eu consigo pensar quando estou ao seu lado. E pela primeira vez na vida, deixo de me culpar por ser assim tão exagerada e aperto forte sua mão, querendo dizer tudo aquilo que não disse em voz alta.

(Isabela Freitas)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Você é mais bonita do que todas as coisas bonitas. É mais bonita que o mar quando ancora no cais do seu coração que, no peito, leva e traz amores distantes, e saudades eternas dos nossos próximos instantes. E, quando a vejo na beira do caos, você se aproxima e, meio sem jeito, me pede um cigarro, um isqueiro, um lenço, um beijo e um imenso abraço. Depois, me deixa a ver vazios. Eu embarco no último navio e atraco na grandeza do mundo que nos separa.

Adeus!

Seus abraços não me tocam mais. Nossas bocas não se trocam mais. Suas palavras não me emocionam mais. O que você endeusava, se humanizou. O que você sangrava, se estancou. O que você feria, cicatrizou: é o que você queria, é o que você queria… E o que você tanto amava se evaporou aos prantos entretanto o que você procurava ainda não a achou. Sequer ouço seus ossos quebrando de saudade. Amar você agora é o de menos. Parece que a esqueci.

Mentira!

Ainda sinto a sua falta. Ainda tateio o seu seio invisível no vazio deste quarto. Ainda trepo com o seu fantasma. Não porque você é mais bonita do que todas as coisas bonitas, mas porque você cabe tão bem no que eu sinto, cabe também no que eu minto. A grande verdade, pequena, é que você é mais bonita do que a verdade.

[você é mais bonita do que todas as coisas bonitas/parte I; antônio]

(Via: eu me chamo Antônio)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013




Escrevi pra você, queria que você lesse, queria mesmo, mas não posso. Talvez você descubra tudo que está nas entrelinhas, talvez você descubra o quanto, algumas muitas vezes, eu quero você aqui, comigo e o quanto, outras vezes, eu quero você o mais longe possível. Não sei qual foi o feitiço, mas você me tem, é incrivelmente ridículo pertencer assim a outra pessoa, é sujo e cruel, não deveria ser permitido; você me tem e talvez saiba disso, talvez saiba que pode sumir por um tempo e quando voltar ainda vou estar aqui, talvez mais madura, talvez mais mulher, mas ainda aqui. Cuidado, querido, você me tem sim, como nenhum outro me teve, mas não me machuque, não quero ter de tira-lo de minha vida, o que sinto por você é tão puro e traz tanta paz, não quero ter de matar isso, mas se tiver, farei com coragem. Você me tem, é, você me tem, é difícil aceitar isso, é difícil mesmo, já que nunca pertenci assim a outro alguém, isso é errado, sei que é. Queria saber se eu te tenho também, nem que seja um pouquinho, talvez não, mas talvez sim e é essa duvida que mata, essa duvida que corrói e me faz tão boba. É claro que você não vai saber que me tem, eu não vou falar, quem sabe você perceba. E, se for perceber, perceba logo, por que se você demorar muito, talvez eu possa ter outro alguém ou talvez eu só não queira mais ter você.


(Lorena Brito, em janeiro de 2013)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Cartas para não sei quem"

Eu não preciso chorar para mostrar que estou triste. Nem gritar para dizer que sinto dor. Muito menos sorrir para deus e o mundo para provar que sou feliz. Não preciso aparentar para ser, demonstrar para estar. Meu mundo acontece aqui dentro. E ele não é menor ou maior que o seu: é simplesmente o meu. Ele é meu com todas as letras, ele é meu em cada palavra, com todos os silêncios, com todos os incêndios. Eu ouvi meu choro, eu escutei meu grito, eu senti minha dor e eu gargalhei em paz sem precisar invadir o seu mundo com coisas tão minhas, com coisas tão lindas, com coisas tão findas que se repetem infinitamente: aqui dentro. 
(Eu me chamo Antônio) 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nunca vou entender.


Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente pensa sem culpa na sua ex, cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode ter uma mulher mais gostosa do que eu, mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.
Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer ir no cinema com uma velha amiga. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais gostoso, como de fato já tive milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.
Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o cinema que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.
E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu (...). Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.
Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo pegar aquele cineminha, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
(Tati Bernardi)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

-

“O que passo para as pessoas é muito mais do meu trabalho do que das coisas que faço fora dele. É claro que existe todo um folclore em torno do meu nome. Tudo quanto é matéria relacionada a bar, por exemplo, tem que ter o meu nome, por que sou realmente um frequentador da noite. Mas o que fica mesmo pras pessoas que consomem meu trabalho é a mensagem romântica que está no que escrevo. O meu trabalho tem muito essa coisa de cutucar a dor de amor. É o lado meio dark do amor que as pessoas curtem em mim. ” — Cazuza

terça-feira, 2 de julho de 2013

Se



Somos estações.

Somos estações! É isso, definitivamente somos estações. Já disseram que “algumas pessoas são feitas para se apaixonarem, mas não para ficarem juntas” e somos assim, completa e totalmente assim;  por isso somos estações, estamos –sempre- apenas de passagem pela vida um do outro. Eu não saberia ficar pra sempre com você e você não saberia lidar com as minhas loucuras matinais, eu não aguentaria suas ex-ainda-apaixonadas e você não gostaria dos meus ex-ainda-melhores-amigos, eu não saberia ver as milhares de meninas dando em cima de ti e você não saberia como falar ‘’não gosto de teres tantos amigos homens”; não saberíamos conviver assim. Ou melhor, poderíamos aprender um com o outro, eu te ensinaria a ver que meus amigos são apenas amigos e você me mostraria que eu não preciso me preocupar, que se você estivesse comigo era comigo que queria estar. Poderíamos.

Eu não digo que somos apaixonados um pelo outro,  mas sei que gostamos da presença e sentimos a ausência, sempre sentimos a ausência (mesmo não percebendo) e sei que gostamos um do outro (não digo um gostar completamente romântico, mas um gostar meio louco e sem explicações). Passamos vários tempos afastados e só quando você reapareceu que eu pude notar o quanto me fez falta, o quanto é bacana ter alguém com quem se sentir a vontade pra agir e falar o que vier em mente é permitido, o quanto é legal ter um amigo que pode ser bem mais que isso. Mas não somos apaixonados um pelo outro, gostamos da amizade e da liberdade entre nós, gostamos da convivência tão sem neuras que temos juntos, somos loucos pela falta da necessidade de explicar cada atitude tomada ou o porque de ter feito (ou não feito) tal coisa; gostamos da simplicidade do estar juntos apenas por ser bom estarmos juntos.

Gostaria de saber o seu lado de tudo isso, se você concorda comigo ou se tem algo mais ou algo menos, mas por enquanto, enquanto não sei, somos e continuamos estações. Então, somos assim, somos passagem! É ótimo enquanto está acontecendo, mas ainda não é pra sempre. Talvez, em algum dia, sejamos pra sempre, aí deixaremos de ser estação para sermos estadia, para sermos morada um do outro; mas isso é pra um dia e não pra agora, por enquanto ainda somos estações. Quem sabe as coisas mudem antes que aconteça, mas, como normalmente acontece, estações vem e vão. E se dessa vez nós "formos" de novo, eu te digo: nos vemos em breve, até a próxima estação, meu bem! 
Lorena Brito

segunda-feira, 10 de junho de 2013

No dia em que te conheci você me disse que nunca se apaixonaria, agora que entendo você. Sei que era medo, na verdade; agora estamos aqui, tão perto e ainda tão longe, não fui aprovada no teste? Quando você perceberá, querido, que eu não sou como o resto?

Não quero partir seu coração, só quero dar um tempo a ele. Eu sei que você está assustado, é errado, como se você fosse cometer um erro. Só temos uma vida para viver e não temos tempo para desperdiçar. Então, deixe-me dar um tempo ao seu coração. O mundo pode ser nosso se quisermos, podemos dominá-lo se você segurar a minha mão; agora, não há volta!

Querido, tente entender: não quero partir seu coração

(Give your heart a break- Demi Lovato, adaptada)

Às vezes penso em quando estávamos juntos, como quando você disse que se sentia tão feliz que podia morrer. Disse a mim mesmo que você era o certo para mim, mas me sentia tão solitária na sua companhia, mas era amor e é uma dor de que eu ainda me lembro. Você pode ficar viciado em um certo tipo de tristeza, como renúncia ao fim; então, quando descobrimos que não podíamos fazer sentido... Bem, você disse que ainda seríamos amigos, mas vou admitir que fiquei feliz que tudo acabou.

Porém você não precisava me cortar, fingir como se nunca tivesse acontecido e que não éramos nada. E eu nem preciso do seu amor, mas você me trata como a uma estranha e isso é tão duro! Não, você não precisava descer tão baixo, fazer seus amigos recolher os seus discos e depois mudar o seu número;embora eu ache que eu não preciso disso... Agora você é apenas alguém que eu conhecia.


Às vezes penso em todas as vezes em que você me ferrou, mas me fazia acreditar que era sempre algo que eu tinha feito e eu não quero viver assim, interpretando cada palavra que você diz. 

(Tradução: Somebody that i used to know- Gotye)


"Na tua."

"Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer. Assim. Aquele domingo, lembra? Fui buscar pão e geleia de morango, e pedi emprestado seu MP3 player para distrair meu caminho. Talvez através da sua seleção eu soubesse melhor quem você é. Sei que eu comentei algo idiota sobre uma suposta vontade de me enforcar após ouvir sua listagem e você, meio brabo, grosso e arredio, disse “se você está com vontade de comer uma torta de morangos deve procurar uma confeitaria, e não um açougue” e blá-blá-blá. Tudo bem, não está mais lá quem falou.

Só que eu estou aqui. Querendo saber mais coisas remotamente pessoais sobre você sem que uma expressão de pavor cruze seu rosto. Então, com quantos anos você perdeu a virgindade? Já foi a algum show do Whitesnake? Você teve sarampo quando criança? Você foi criança um dia, não foi? Como vai sua mãe? Você me quer apenas como sua garota de final de semana? Eu quero mais.

Eu sei o que você vai dizer. Mentira. Não sei. Mas gosto de fantasiar alguma coisa mais ou menos parecida com “Já estamos juntos desde sexta-feira, não estamos? Você ainda quer que eu fale? Desculpe, baby, isso já é pedir demais. Pensei que minhas intenções estivessem implícitas”. Aquele seu jeito seco e ao mesmo tempo delicado de esfregar a suas razões na minha cara. Odeio quando você está certo, coisa que acontece quase o tempo todo. Além do mais, não é justo. Você já me viu meio embriagada, sentada no meio-fio, chorando de saudades da minha mãe.

Enfim, em três meses você me viu chorando 43% do volume esperado para o ano inteiro. Mas é que, sei lá. Isso tudo, todo esse medo do nada-acontecer ou do tudo-acontecer-rápido-demais tem me deixado cansada. Nada de mais. Você sabe montes de coisas sobre mim, muito porque sou tagarela, coleciono tiques nervosos e acho que está sempre faltando um algo mais – por que se contentar com o ótimo, se pode ficar perfeito? Vocês meninos têm disso? Tipo, quando jogam videogame, desmontam motores ou fazem fogo, vocês trocam ideias, buscam saber o que o amiguinho acha a respeito disso e daquilo? Tudo bem, eu sei que não. Pode ficar aí, na tua, quieto, não se faz necessário reunir forças para mover lábios e cordas vocais para responder qualquer coisa que seja. Não quero incomodar, mas, vai, solta pelo menos um muxoxo ou me manda calar essa maldita boca.

Passear pela calçada contigo tem a mesma sensação de ir a um bom restaurante concorrido. Na sua testa está escrito RESERVADO, e eu espero de verdade que o lugar seja meu. Sabe, eu tenho adorado sentar à sua mesa e experimentar sua comida bonita, colorida, aromática, sedutora e cheia de sabor. Nunca me importei muito com a receita, os ingredientes e a forma de preparo. De todos os locais onde jantei, todas as vezes evitei descobrir ratos e baratas e outras guarnições escrotas nos bastidores daqueles idiotas. Eu não queria me decepcionar. Mas contigo é diferente. Eu preciso saber. Como vou saber se estou pisando em ovos se você não me convida para conhecer sua cozinha?

Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser?

Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na tua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado.

Gabito Nunes