segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que você fez comigo? (Isabela Freitas)


- Desculpe-me por ser tão exagerada.

Disse, após dar uma gargalhada tão alta que chamou atenção de todo o restaurante. Eu queria mesmo não ser tão exagerada, quero dizer, eu precisava mesmo achar a história que ele me contou tão engraçada assim? Olha, precisava. A avó dele perdeu a dentadura no meio de um jantar de família, isso era mesmo muito engraçado. Eu só poderia ter me contido, né? Ter dado aquele sorrisinho meigo que as garotas de filmes fazem, com as mãos na boca, enquanto lançava um olhar sexy que insinuaria que era o timing perfeito para ele me dar um beijo. Mas não, é claro que não, a Senhorita Exagero teve que gargalhar alto, e não satisfeita, derrubar o garfo no chão logo em seguida. Porque é claro, a Senhorita Exagero era também Estabanada. Perfeito. Nada de beijo, nem timing perfeito.

Toda vez em que exagero nas reações lembro-me da minha avó dizendo "Essa menina não consegue ser pouco, né?''. É, querida vovó, eu ainda não consigo ser pouco. E aproveitando o parênteses, desculpe-me por te envergonhar todas às vezes em que você me levava na Igreja e eu perguntava em voz alta:

- Ô vó, por que sempre que eu venho aqui é a mesma coisa?
- Shiu menina, não fala isso. - ela me respondia, entre dentes. E eu continuava, sem entender muito bem.
- Mas vó, É A MESMA COISA TODA VEZ, AS MESMAS MÚSICAS. Pede pro padre cantar aquela da Xuxa, pede vó! - e fazia beicinho.

E isso aí não foi nada perto do dia em que puxei a barra da vestimenta do Padre e perguntei se ele conhecia a música "Dança do Coco'', que claro, a Xuxa cantava. Ele me respondeu com um sorrisinho, seguido de uma advertência para minha avó "Essa aí é uma figura, hein?'' Vergonha, vergonha. Por que eu era assim? Deveria ser mais fácil segurar os pensamentos na boca. Que os pensamentos ficassem só em pensamentos, e que eles não fossem tão exagerados. Ou sonhadores.

Eu era a melhor quando se tratava de relacionamentos, diziam minhas amigas. Fria, calculista, não demonstrava muito, tampouco escondia tanto. Era ''na medida''. Todos meus relacionamentos duravam um tempo aceitável, o suficiente para que eu enjoasse de toda aquela sutileza e sensatez. Sensatez. Por que meus relacionamentos eram tão sensatos? Calmos? Não aceleravam o coração? Talvez eu fosse mesmo a melhor, conseguia até controlar os batimentos do coração, as borboletas no estômago. Devia ser isso, é claro que era isso. Obrigada vida, eu era uma sabe tudo dos relacionamentos.

Até você aparecer.

No dia que te vi pela primeira vez conversando com meu melhor amigo, tive ânsia de vômito. Não sabia se a sua presença provocava isso em mim, ou se a culpada era a bebida em que segurava nas mãos. Por via das dúvidas, joguei a bebida fora. Você sorriu, eu tropecei. Sorri de volta. Estava escuro, talvez você nem tenha notado que eu perdi o equilíbrio. Perguntou meu nome, não entendi. Fiz sinal de que não estava escutando. Você perguntou de novo, e eu não entendi de novo. Sorri. Só conseguia prestar atenção nas suas mãos nas minhas costas, e no seu perfume que tinha o cheiro de céu. Céu.

- Seu nome é Céu?

Meu Deus. Eu disse isso em voz alta, é isso mesmo? O que estava acontecendo comigo? Você  não sabe tudo sobre relacionamentos? Vamos lá garota, aja como se fosse normal.

- Céu? Não, você entendeu errado. Eu estava perguntando qual o seu cel. Celular.

E foi assim que eu pedi o telefone de um completo desconhecido que mexia com os meus hormônios, e me fazia falar coisas sem pensar. Assim como o Padre da Igreja da minha vó. Tirando a parte dos hormônios. Desconhecido esse que agora era o meu namorado, estava sentado de frente para mim em um restaurante, e me olhava com cara de quem não entende o que se passa.

- Linda, tá me ouvindo?

É claro que eu não estava te ouvindo. Eu nunca te ouvi, nunquinha. Toda vez que você abre a boca eu me perco. Me perco nos seus lábios, no seu sorriso, e no som que a sua voz faz quando me conta algo empolgado. Me perco nos seus olhares apreensivos, e no modo que suas mãos se mexem tentando exemplificar o que está dizendo. Eu me perco todinha. Não sei se você nota, deve notar, porque depois que conta algo nem se dá o trabalho de perguntar se eu entendi. Eu nem ouvi. Você me distrai demais, essa é a verdade. Então perdoe-me por ser tão exagerada às vezes, é que toda vez que você me faz sorrir, tenho vontade de te abraçar forte e dizer que você é o máximo. Mas isso soaria estranho, não é? Então eu apenas dou uma gargalhada. Às vezes alta demais.

Cadê aquela garota que sabia tudo sobre relacionamentos? Procura-se. Eu odeio o fato de não saber como agir quando estou ao seu lado. Devo colocar minha cabeça no se ombro enquanto assistimos um filme? Puxar sua mão quando atravessamos a rua? Cantar nossa música em voz alta quando ela toca na rádio? Eu odeio não saber a hora certa de dizer as coisas. Quero dizer, eu sou intensa demais. E se isso te assustar? Você se assustaria se eu confessasse que espero você dormir, só para poder te observar enquanto dorme?Provavelmente sim, eu me assustaria. Também odeio sentir meu rosto queimando toda vez que você me elogia. Aliás, dá pra parar de me elogiar? Eu sinto meu estômago queimar como se um enorme balão estivesse pronto para decolar. Pegando fogo. Assim como meu rosto. E eu não gosto disso. Na verdade, eu gosto muito. E é por isso que é um problema.

Nós somos um problema, não vê? Você me faz suar frio, derrubar objetos, e gaguejar enquanto falo. Isso não pode ser normal, nós não somos normais. A sua presença me deixa nervosa, e o meu estômago se tornou o lar das borboletas de todo o país. Talvez de todo o mundo. Por Deus! Só de escutar o seu nome já me arrepio toda. Qual era o meu problema? Será que preciso de um psicólogo? Não, não, PSIQUIATRA? Deve ser. Começo o meu tratamento na segunda-feira, sem furos.

E enquanto eu pensava todas essas coisas, você me interrompe com um:

- Ei, eu adoro quando você fica pensativa assim.

E eu tenho vontade de responder com "E eu adoro quando você diz que me adora quando fico pensativa."

Mas não, ia parecer clichê e bobona demais. Então eu sorrio e digo:

- Você é um bobo mesmo.

E é aí que você me puxa e dá mais um daqueles beijos que tem gosto de intensidade. Intensidade. É tudo que eu consigo pensar quando estou ao seu lado. E pela primeira vez na vida, deixo de me culpar por ser assim tão exagerada e aperto forte sua mão, querendo dizer tudo aquilo que não disse em voz alta.

(Isabela Freitas)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Você é mais bonita do que todas as coisas bonitas. É mais bonita que o mar quando ancora no cais do seu coração que, no peito, leva e traz amores distantes, e saudades eternas dos nossos próximos instantes. E, quando a vejo na beira do caos, você se aproxima e, meio sem jeito, me pede um cigarro, um isqueiro, um lenço, um beijo e um imenso abraço. Depois, me deixa a ver vazios. Eu embarco no último navio e atraco na grandeza do mundo que nos separa.

Adeus!

Seus abraços não me tocam mais. Nossas bocas não se trocam mais. Suas palavras não me emocionam mais. O que você endeusava, se humanizou. O que você sangrava, se estancou. O que você feria, cicatrizou: é o que você queria, é o que você queria… E o que você tanto amava se evaporou aos prantos entretanto o que você procurava ainda não a achou. Sequer ouço seus ossos quebrando de saudade. Amar você agora é o de menos. Parece que a esqueci.

Mentira!

Ainda sinto a sua falta. Ainda tateio o seu seio invisível no vazio deste quarto. Ainda trepo com o seu fantasma. Não porque você é mais bonita do que todas as coisas bonitas, mas porque você cabe tão bem no que eu sinto, cabe também no que eu minto. A grande verdade, pequena, é que você é mais bonita do que a verdade.

[você é mais bonita do que todas as coisas bonitas/parte I; antônio]

(Via: eu me chamo Antônio)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013




Escrevi pra você, queria que você lesse, queria mesmo, mas não posso. Talvez você descubra tudo que está nas entrelinhas, talvez você descubra o quanto, algumas muitas vezes, eu quero você aqui, comigo e o quanto, outras vezes, eu quero você o mais longe possível. Não sei qual foi o feitiço, mas você me tem, é incrivelmente ridículo pertencer assim a outra pessoa, é sujo e cruel, não deveria ser permitido; você me tem e talvez saiba disso, talvez saiba que pode sumir por um tempo e quando voltar ainda vou estar aqui, talvez mais madura, talvez mais mulher, mas ainda aqui. Cuidado, querido, você me tem sim, como nenhum outro me teve, mas não me machuque, não quero ter de tira-lo de minha vida, o que sinto por você é tão puro e traz tanta paz, não quero ter de matar isso, mas se tiver, farei com coragem. Você me tem, é, você me tem, é difícil aceitar isso, é difícil mesmo, já que nunca pertenci assim a outro alguém, isso é errado, sei que é. Queria saber se eu te tenho também, nem que seja um pouquinho, talvez não, mas talvez sim e é essa duvida que mata, essa duvida que corrói e me faz tão boba. É claro que você não vai saber que me tem, eu não vou falar, quem sabe você perceba. E, se for perceber, perceba logo, por que se você demorar muito, talvez eu possa ter outro alguém ou talvez eu só não queira mais ter você.


(Lorena Brito, em janeiro de 2013)